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Cap. 11

Ilustração com a silhueta de metade do corpo de um nativo americano com cabelos longos, rosto pintado e colares. Atrás dele, localiza-se um grande bordado quadriculado típico dos indígenas norte-americanos

Os dois seguem em silêncio sob o sol escaldante, não por vontade de Augustus, que se remói cheio de perguntas e comentários que sobem por sua garganta, mas morrem sempre que ele se vira para o xerife. Incrível como até a orelha daquele homem consegue ser mal-encarada.

Não muito longe, avistam outro cavaleiro aproximando-se pela frente com as mãos erguidas, indicando estar desarmado.

— Estou indo para New Heaven, posso me juntar a vocês? — pergunta o homem, um nativo americano com várias peles de cobra penduradas em seu cavalo.

— Claro, também estamos indo para lá! Será um prazer termos sua companhia. — responde Augustus antes que o xerife possa sequer terminar de ouvir a pergunta.

— Ótimo! – fala o xerife em voz baixa para si mesmo. – É tudo o que faltava. Um índio junto com a gente.

Augustus se aproxima do recém-chegado, mal contendo seu alívio e felicidade por finalmente ter alguém com quem conversar durante a viagem:

— Seja bem-vindo, senhor. Me chamo Augustus Wondernoff e estou indo para New Heaven na companhia do bom xerife de Rotten Root. Já andei perambulando por este deserto e concordo que será bem mais seguro se viajarmos em um grupo maior. Como você se chama, meu amigo?

Afogado em meio a toda aquela verborragia, o nativo olha espantado para o xerife, que só arqueia as sobrancelhas, então olha para Augustus, infla as bochechas com ar, balança a cabeça negativamente e responde: — Não falar sua língua.

Augustus poderia jurar que ouviu uma risada vinda do xerife, rápida e baixa, quase como se ele estivesse limpando a garganta.

Eles seguem em silêncio por mais alguns quilômetros até Augustus não se conter mais: — Xerife, quanto falta ainda? Chegaremos antes de anoitecer? O senhor me levará até o xerife de lá?

Nesse momento, até mesmo o som de um tiro já traria alívio para o agoniado estrangeiro.

O xerife olha para Augustus surpreendentemente calmo e diz com a voz bem serena: — Não falar sua língua.

Foi a vez do indígena dar um riso parecido com um pigarro. A viagem prossegue silenciosa, para alívio do xerife e prolongamento da agonia de Augustus (aumentando a satisfação do xerife).
 

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