Cap. 25

— Abra seus olhos, eu sei que você já acordou. Chega de mentiras! – diz uma voz que oscila entre a calma e a excitação.

Sentindo a pressão das cordas ásperas prendendo suas mãos, o padre respira fundo e decide encarar seu agressor.

Em uma rápida passada de olhos pelo ambiente, ele percebe que está no altar da capela. Caída e amarrada ao seu lado, Irmã Bridget parece bastante machucada no rosto. À sua frente, apoiado no púlpito de madeira escura e gasta pelo uso e pelo tempo, a esguia figura do quaker invasor se move de maneira fluída e até graciosa enquanto prossegue seu sermão:

— Que tipo de fé você semeia aqui? Que espécie de religião você tenta empurrar para dentro das pobres cabeças que aqui vêm em busca de orientação?

“Que diabo é esse sujeito?”, pensa o padre enquanto tenta se livrar de suas amarras. Por mais que ele contorça as mãos, as cordas parecem ficar cada vez mais apetadas. “Inferno! Como é que aquele sujeitinho escapa tão fácil?” pondera, amaldiçoando Augustus antes voltar sua atenção novamente ao invasor.

Com uma bíblia na mão, a esquálida figura se aproxima de irmã Bridget, tira sua mordaça e pergunta: — Diga, mulher, por que Nosso Senhor precisa de intermediários como vocês, quando todos seus ensinamentos estão aqui, cabendo nas mãos de qualquer pessoa?

Bridget começa a esboçar um xingamento entre as lágrimas e as bochechas espremidas pela mão do quaker. Ela não pretende responder àquele lunático, afinal, hematomas espalhados por seu corpo registram bem como foi a conversa que os dois tiveram antes do padre retornar à capela.

Naquele momento, ela só deseja dar voz à sua raiva e frustração.

A freira toma fôlego, mas é interrompida antes mesmo de começar por um golpe dado em sua face com a Bíblia.

O impacto faz com que a moça caia atrás do padre, que, impotente em sua luta com as cordas fica imaginando quanto tempo ainda tem antes que o maluco pare de falar e dê um fim a ele e a irmã Bridget.

“Pelo menos eu não terei mais que ouvir esse monte de merda.”, consola-se o clérigo, ainda tentando se soltar.