Cap. 45
Augustus nem chega a perceber as facas vindo por entre a fumaça. Ele sente um corte em seu pescoço, parecido com os que fazia aprendendo a se barbear. Focando sua visão em Singh, ele o percebe hesitante e prepara uma nova estocada com sua espada quando o indiano aproxima seu rosto exibindo uma das facas de Dimitri fincada em sua órbita direita.
A mão em sua garganta vai perdendo a força conforme seu oponente contorce-se e desaba. A outra mão continua dentro do cesto. Dimitri pragueja algo em russo enquanto foge para fora da tenda.
Confuso e já um tanto intoxicado pela fumaça, Augustus chama por Mingmei enquanto chuta o corpo de Singh para fora de seu caminho.
Aproximando-se, ainda sem resposta, ele percebe dois furos no cesto além daquele feito pela mão de Singh.
Ele arrasta o cesto para fora da tenda e, mesmo do lado de fora ainda não consegue tomar fôlego para tirar a tampa e olhar dentro.
— Mingmei? – repete mais uma vez, bem baixinho, já sabendo que não haverá resposta. – Eu sou mesmo muito burro.
Ele tira a tampa do cesto como quem arranca um curativo grudado na pele e vê sua amiga e salvadora com as facas de Dimitri aprofundadas em sua garganta e seu peito.
“Você falhou”, a voz ecoa em sua cabeça, “falhou com ela, falhou com seu avô, falhou com seu circo. Seu pai sempre teve razão, você só em bom em fugir”.
Isabella, Manoel, Hassan, Bomani e Dume se aproximam e ajudam a retirar o corpo de Mingmei, carregando-o gentilmente, mesmo em meio a todo o caos do circo em chamas.
— Eu fico com ela – oferece-se a bailarina. – Vocês precisam ajudar Luan a salvar os animais e nossas coisas.
Os homens se levantam, trocam olhares de condolência entre si e seguem para tentar resgatar o pouco que ainda deve restar de suas vidas nas carroças incandescentes que ardem no começo de noite.
— Tenham cuidado – alerta Isabella. – Dimitri e Venim podem ainda estar por perto.
— Eu sinceramente espero muito que estejam – murmura Augustus olhando o vazio por alguns segundos antes de entrar outra vez na tenda em chamas e sair com sua espada novamente em punho, seguindo em direção às carroças.
— Aonde você vai? – pergunta Isabella.
— Parar de fugir – responde Augustus, sumindo na fumaça.