Cap. 118
Solomon encara o xerife Wayne sem medo de demonstrar sua confiança: — Não farei nada. Assim como o senhor também nada fará. Sabemos que é melhor não contrariarmos madame.
“Crioulo maldito!”, pragueja o xerife consigo mesmo, sabendo que aquela pilastra negra que barra seu caminho tem razão.
Não seria problema derrubar o afrodescendente com um tiro ou dois. Ninguém iria criar encrenca com um xerife pela morte de um negro. Ninguém, a não ser...
— Algum problema, querido? – pergunta uma ainda não totalmente desperta Lucretia do alto da escada.
Solomon e Wayne se encaram mais um instante e respondem quase ao mesmo tempo: — Está tudo bem.
Eles se entreolham espantados e se voltam para Lucretia que os tranquiliza:
— Não briguem, vocês dois são meus queridos.
Ela desce apoiada no corrimão, coloca a mão direita sobre o ombro de Solomon e pede gentilmente: — Querido, poderia me trazer um café quente, por favor?
Nem bem termina o pedido e o homem já está a caminho, deixando um “Imediatamente, madame” antes de sair.
Lucretia olha para Wayne, que mal tem aparecido desde que voltaram da aldeia dos Pés Pretos, estreita as pálpebras sobre os olhos e pergunta: — O que o traz aqui, digníssimo xerife? Já acabou toda a bebida que você levou para a cadeia?
Na verdade, a bebida havia realmente acabado, mas até mesmo Wayne consegue perceber que não se trata do melhor momento para pedir mais. Além disso, ele tem outras prioridades no momento:
— Vou até aquele ferreiro que veio morar do outro lado do morro da igreja. Preciso de uma nova estrela de xerife e lembro que você está com a minha antiga. Me devolva, para eu levar como modelo.
Lucretia comprime ainda mais as pálpebras: — Eu posso te emprestar a estrela derretida, apesar de achar que aquilo não vai servir para nada. Mas, você tem que me jurar que a trará de volta depois. Você jura?
Xerife: — A maldita estrela é minha!
Lucretia: — Quer tentar tirá-la de mim à força?