Cap. 13
O prefeito acena para que o aguardem. “Mais um forasteiro? O que esses malucos vêm procurar aqui, nesse fim de mundo esquecido por Deus?” reflete McQueen enquanto fecha a janela e procura seu chapéu para voltar à rua.
Passando os olhos pela sala, seu coração dá um coice em sua boca do estômago quando percebe que havia deixado aberto o relógio.
A sala parece quadruplicar de tamanho e cada balançar do pêndulo acrescenta uma légua na distância entre aquele homem com a veia na têmpora latejando e a porta aberta do relógio, que fica ali, expondo a olhares curiosos suas engrenagens, intimidades e segredos.
McQueen corre para fechá-lo, mais rapidamente do que um homem de sua idade e físico pareceria capaz de se mover. São poucos passos, mas duram uma eternidade de tique taques até que ele chega ofegante, suando frio.
Fecha o relógio e, com os olhos injetados, confere se as cortinas e a porta continuam fechadas enquanto vai caindo sentado no chão. Respirando fundo, apalpa-se para pegar no bolso do colete um lenço já úmido de suor e passa-o pela testa ensopada, procurando se recompor.
“Calma! Ninguém viu nada.”, repete para si mesmo mentalmente. “Ninguém viu nada, ninguém sabe de nada”, entoando esse mantra, ele se levanta, caminha para a porta e, antes de sair, confere mais uma vez se está tudo fechado e seguro.
O prefeito consegue ouvir o burburinho do grupo reunido na rua antes mesmo de sair. Ele não está em condições de lidar com esse problema, ainda mais com o xerife fora da cidade, mas ele é o prefeito e sabe o que precisa ser feito.
Ainda recuperando o fôlego, McQueen se apoia no parapeito de seu andar e pede ao atendente, que permanece em meio à multidão: — Você, vá chamar o padre.
O rapaz olha para os lados, aponta lentamente para o próprio peito e olha suplicante para o prefeito que o encara de cima, balançando a cabeça afirmativamente. Resignado, o atendente engole seco, olha para a capela no alto do morro, abaixa a cabeça, faz o sinal da cruz e começa a seguir seu caminho.