Cap. 27

— Como? – pergunta o quaker engolindo sangue e pedaços de dente.

— Pergunte ao capeta – grunhe o padre com um sorriso de satisfação ao sentir partes daquele corpo esquálido se partindo ou rompendo a cada novo golpe. Aquele filho de um gambá leproso não precisa saber que ele conseguiu se soltar graças à ajuda de irmã Bridget, que roeu e mstigou as cordas, afrouxando suas amarras enquanto o maníaco fazia seu falatório sem fim.

Pegando um de seus Colts, o padre coloca a arma sob o queixo do que sobrou do rosto do invasor, que surpreendentemente agarra seu pescoço com as mãos trêmulas e uma força desproporcional à sua frágil estrutura.

— Eu tirei as balas – sussurra o quaker apertando cada vez mais o pescoço do padre, que sussurra de volta: — Quem precisa de balas?

Com um tranco, o cano do revólver atravessa o pescoço e o palato do homem magro que estremece em espasmos enquanto tosse sangue sobre o padre, que mantém a posição até que os braços já sem vida do invasor desabam de seu pescoço.

Largando o corpo no chão, o padre corre para soltar irmã Bridget. Preocupado com a mulher que assistiu a toda aquela execução (e sabe Deus o que mais pode ter passado nas mãos daquele lunático quando estiveram a sós), ele procura acalmar sua voz e pergunta: — Você está bem?

— Me ensina - responde a moça encarando-o fixamente.

Padre, confuso: — O quê?

Bridget, ainda sem piscar: — Me ensina a machucar.

Espantado, o padre se levanta, olha para a moça, olha para o corpo caído em uma poça de sangue ao lado do púlpito, olha para suas mãos úmidas, vermelhas e pegajosas. Olha para tudo, mas não encontra o que dizer.

Ele se vira e vai titubeante em direção à porta da capela.

— Vou buscar ajuda - diz ele apressando o passo. Assim que sua mão encosta na porta, a voz da moça o alcança: — Me ensine a machucar e eu te ensino a ser padre.

Foi como um tiro no pulmão, acabando com seu fôlego e trancando sua respiração.

— Eu já volto - diz o padre, ou pelo menos ele acha que diz isso, enquanto sai rumo à cidade.