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Cap. 69

Ilustração com um fundo vermelho ao centro, mesclando-se até ficar preto nas bordas. Na parte inferior esquerda está a silhueta de um homem ajoelhado com as mão amarradas às costas e olhando para um grande porco preto e branco localizado na parte superior da ilustração.

Não foram o barulho nem os sacolejos no caminho que trouxeram o padre de volta à consciência, nem mesmo o impacto de ser atirado ao solo sem o menor cuidado. Foi o cheiro.

Um cheiro forte, terrível, que parece que você mastiga e gruda no céu da boca cada vez que respira.

Um odor tão intenso e nauseante que faz Westwood nem perceber a dor no rosto inchado pela pancada do cabo do rifle do homem gordo que o acertou quando estava pegando gravetos para a fogueira.

Ele se senta no chão enlameado em que foi jogado, o que não foi fácil, já que, novamente, acordou com as mãos amarradas. “Você está velho.”, reflete consigo mesmo, “Velho e descuidado. Em outros tempos, você nem teria a sorte de acordar novamente, mas uma hora essa sua sorte vai acabar”.

Conforme a visão se acostuma com a falta de luz, vai percebendo uma figura volumosa que se aproxima.

“Jesus!”, assusta-se o padre, “Isso é um porco! Um porco do tamanho de um boi!” pensa o homem, tentando se afastar enquanto o animal se aproxima fuçando e grunhindo.

O porco tenta morder o padre que procura enxotar a besta com os pés.

“Onde, diabos, estará aquela aberração?” divaga Westwood sobre o destino de Lucretia entre um chute e uma dentada. “Por favor, Deus, que aquilo não tenha morrido sem que eu pudesse ver como aconteceu.”

O porco vai parecendo maior conforme o dia começa a clarear e já é possível visualizar melhor o chiqueiro em que está aprisionado.

O sol vai surgindo e passando por paredes de tábuas mal pregadas, um teto esburacado, muita lama, fezes de porco (pelo menos a maior parte delas), alguns ossos e um par de crânios humanos.

Um pouco mais de luz e pode-se perceber marcas de mordidas nos ossos.

Se Westwood fosse um homem religioso, esse seria um bom momento para começar a rezar. Isso se o porco deixasse algum tempo para religião enquanto mastiga a bota direita do clérigo, que escorrega pelo chão lodoso sem conseguir firmar-se em uma posição que não seja deitado.

Ele precisa dar um jeito nessa besta antes que ela acabe mordendo algo que vá fazer falta.

Pelo menos, para felicidade do padre, Lucretia continua viva. Por enquanto.
 

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