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Cap. 72

Ilustração com um fundo vermelho ao centro, mesclando-se até ficar preto nas bordas. Ao centro, a silhueta do rosto de um homem com longos cabelo e barba ruivos fazendo um sinal da cruz com a mão esquerda. A barba do homem apresenta uma ondulação semelhante a chamas de uma fogueira.

Seth faz o sinal da cruz e abaixa a cabeça em reverência ao padre.

Westwood avalia que a situação possa estar começando a melhorar, mas sua esperança termina quando Kael pergunta: — Nóis num vai mais comê ele?

Seth: — Claro que vai! Mas tem que mostra respeito, que nem a mãe ensinô.

Westwood: — Comer? Vocês têm um porco enorme e comem gente?

Kael arregala os olhos e para de respirar, como se ouvisse o pior sacrilégio saído da boca de um padre.

Seth se aproxima com um olhar que Westwood conhece bem, só que está acostumado a estar do outro lado.

— Lucy é família! – diz o ruivo, abraçando Kael. — Não se come a família!

Kael respira aliviado, mas só até Seth completar: — A num sê que o inverno dure muito mais que a comida estocada.

Westwood vasculha a cabana com os olhos procurando por pedaços de Lucretia.

Seth: — Sua amiga foi se lavá pra comê. Ocê é o próximo.

— Próximo a comer ou se lavar? – Westwood tenta estender o assunto para avaliar melhor a situação. Na verdade ele não tem a intenção de ser comido e, muito menos, de tomar um banho.

Seth explica: — Nóis num é animar. Aqui tem pôca caça e os índio num deixa a gente ir nas terra deles. E tão certo, e também num quero gente nas minha terra.

O grande ruivo continua: — Nóis tá aqui atrás de ôro, mas achamo sal. Começamo matando gente só pra protege o território, mas, no segundo inverno, percebemo que era um desperdício dá tudo pra Lucy.

— Por isso ela ficô tão gorda! – diz Kael em meio a sorrisos, o que faz com que ele pareça um papagaio com soluço.

Seth conclui: — Hoje, aparece menos gente aqui, mas quem vem, nóis pega, limpa, mata, defuma ou sarga (depende do pedaço), prova um poco pra vê se a carne é boa e guarda o resto pro caso de necessidade.

Kael, sempre rindo: — Proteção e sobrevivência.

Seth: — Isso mêmo. Viu? São as palavra mais comprida que ele aprendeu.

Westwood encontra-se estático, sem saber como reagir à explicação que acabara de receber, afinal, fez todo o sentido para ele, e isso o deixou mais preocupado do que a iminência de ser comido. Até da parte do banho ele esqueceu.

Seth se aproxima, abaixa a cabeça e fala gentilmente: — Posso te fazê um pedido meio estranho?
 

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