Cap. 109
O prefeito se retrai como se tentasse sugar o rosto para dentro. Ele caminha uns poucos passos. Meneia a cabeça, indicando uma discussão interna, até que respira profundamente e, aparentando ter perdido a tal discussão, balança a cabeça positivamente para Augustus: — Ok, vou contar minha história para você.
— Você não teria alguma bebida aí com você, teria? – pergunta o prefeito, apertando a boca e o queixo com a mão.
Augustus: — Receio que nosso bom doutor tenha acabado com toda a bebida nesta casa... quiçá em toda a cidade.
McQueen engole seco (não há outra opção) e começa a falar:
— Eu venho de uma família de escoceses da região de Chicago. Desde pequeno, sempre fui muito curioso e atento a detalhes.
— Criado com mais sete irmãos, sempre me chamavam quando precisavam encontrar algo perdido ou descobrir quem tinha feito algo errado. Isso me fazia ser querido pelos meus pais, mas não tão popular entre os irmãos e irmãs.
Augustus: — Posso imaginar.
McQueen: — Mas foi bom. Aprendi a me defender (e também a me esconder) bem para sobreviver à infância.
— Já um jovem, fui trabalhar na estação ferroviária de Chicago e ajudei a resolverem alguns roubos misteriosos por lá. Acabei chamando a atenção de outro escocês que me convidou para trabalhar com ele em um novo tipo de serviço, uma agência de detetives particulares.
— Aprendi novas técnicas de investigação, ataque e defesa com a equipe da empresa. Modéstia à parte, fiz um trabalho muito bom ajudando a descobrir um plano para assassinar o presidente Lincoln, que Deus o tenha, e acabei me tornando parte de sua equipe de segurança durante a Guerra Entre Estados.
Augustus: — A Guerra da Secessão?
McQueen: — Pode ser também. Dê o nome que quiser, não mudará o número de mortos.
— Apesar da Guerra, minha vida ia muito bem. Eu me casei, tinha dois filhos e era sempre requisitado para trabalhos em bancos e ferrovias.
Subitamente, o prefeito para e fica olhando para o vazio, mal respirando.
Após alguns minutos, Augustus decide tentar retomar a conversa: — E?
McQueen limpa rapidamente uma lágrima que começava a surgir e volta a falar: — Não tem um “e”, tem um “mas”.
Augustus, com um leve sorriso solidário: — Sempre tem um “mas”.