Cap. 137
O prefeito se senta para continuar sua narrativa:
— Enquanto voltávamos da igreja para a rua principal, Ray decidiu deixar as coisas bem claras entre nós: “Você é o prefeito?”, ele perguntou e eu confirmei. Sem nem virar a cabeça para me olhar, ele determinou: “Você manda nos mexicanos, não em mim. Ninguém manda em mim, certo?”. Só me restava concordar.
— Eu o conduzi até a cadeia, entreguei-lhe as chaves das celas, desejei boa sorte e, ao sair, arrisquei: “Poderia me dizer seu nome, xerife?”
— Não sei se ele demorou segundos ou minutos para responder, mas foi um tempo interminável em que minha vida passou em frente aos meus olhos até que veio a resposta: “Wayne”.
— Não querendo abusar da sorte, reforcei as boas-vindas e sai rumo ao saloon do Ramirez. Aquela gosma escura que ele serve deveria ajudar a tirar o gosto de bile da minha garganta e acalmar a queimação em meu estômago.
— Voltei para casa e fiquei imaginando o que os dois poderiam estar planejando, afinal, não seria por acaso que teriam parado nesta cidade.
— Eram assassinos, líderes de bandos de criminosos temidos em todo o oeste, tinham roubado dezenas de bancos e trens. Por que, diabos, estariam se escondendo aqui?
— Descobri, depois, que ambos tiveram dissidências em seus bandos. Ray, inclusive, é dado como morto até hoje e seu bando se espalhou após sua partida.
— Aliás, falando no bando de Ray Peterson, chegamos ao mais perigoso de todos.
— Quem? – pergunta Augustus, sem respeitar a pausa do prefeito para tomar um gole de água.
McQueen finge ignorar a ansiedade de seu ouvinte (apesar de se deliciar com ela), bebe mais um pouco de água vagarosamente, pigarreia, olha para Augustus como que demonstrando quem está no controle da narração, suspira, e retoma a história:
— Se Moe e Ray eram dois animais selvagens, este aqui era a própria Arca de Noé, se os animais lá dentro vivessem bêbados e raivosos. – o prefeito espalma a mão sobre outro cartaz de procurado.