Cap. 256
Isolados no forte, Pierre, Vitus e Jean sabiam que não dispunham de comida para mais do que dois dias. Precisavam elaborar uma saída.
Vitus permanecia longo tempo espiando pela portinhola, estudando o terreno ou sabe Deus pensando em quê. No segundo dia, ele pegou uma armadilha para animais e saiu descendo a montanha.
Próximo à base, o russo se agachou, aguardou longos minutos imóvel e, subitamente, arremessou a armadilha em um pequeno monte de neve.
Do monte, foi puxado um dos homens pálidos, com o ombro preso na armadilha. Ele sangrava e se debatia enquanto Vitus o puxava tal qual um peixe.
O russo arrastou o homem até o forte e nenhum dos dois emitiu qualquer som.
O capitão parabenizou o russo pela captura, afinal, poderiam estudar o inimigo, mas Vitus pediu que o estudo fosse breve, pois aquele homem seria a refeição deles nos próximos dias.
Pierre relata o choque com as palavras de Vitus e a igual surpresa ao ver que Jean concordava com o russo. O capitão estava acostumado com a guerra, matar, morrer, às vezes ficar aleijado. Aceitava mulheres, idosos e crianças como baixas eventuais do combate, mas nunca pensou no extremo em que chegaria pela própria sobrevivência.
E era aquilo que seus dois companheiros eram, sobreviventes. Não se preocupavam com vitórias, glórias ou mesmo honra, bastava viver mais um dia.
Poucos dias depois, ainda isolados no forte, Vitus saiu para caçar novamente e Jean decidiu ir junto. O capitão se manteve vivo sem apelar ao canibalismo, mas as opções de comida se esgotavam.
Demorou bem mais até que Vitus retornasse trazendo um ensanguentado Jean nos braços.
“Ele chegou perto demais da base da montanha”, explicou o russo, mas o corte no pescoço de Jean era de uma lâmina e os fantasmas não usavam armas.
Pierre perguntou se Vitus pretendia comer nosso colega também e ele respondeu: “Ele entenderia. Mas, vamos fazer antes uma oração.”
O capitão sabia que não demoraria para que chegasse sua vez.