Cap. 106
McQueen puxa um mapa amarelado da pilha que Augustus espalhou pelo chão da sala e começa sua narrativa:
— Esta cidade, se é que pode ser chamada assim, surgiu em 1780, por causa da mina de prata que havia no morro onde fica a igreja.
— A igreja, aliás, veio antes da mina e do resto. Era uma missão religiosa de padres católicos em terras espanholas. Pelos documentos que encontrei lá, pelo menos em duas vezes todos os padres que viviam ali foram assassinados.
— Pelos indígenas? – pergunta Augustus.
McQueen responde: — Em uma das vezes, sim. Nas outras, não dá para afirmar.
O prefeito prossegue: — Não sei por onde você passou para chegar aqui, mas deve ter percebido que aquele lago no morro da igreja é a única fonte de água em vários quilômetros.
Augustus concorda com a cabeça, lembrando o mar de terra e poeira em que vagou até cair na cidade.
— A água – continua McQueen – fez com que criassem um entreposto comercial na base do morro, para negociar principalmente peles com os caçadores e índios da região.
— É dessa época que vem o nome da cidade. Havia uma dupla de irmãos que saqueava os comerciantes locais e as caravanas que faziam as trocas de produtos no entreposto.
— Um dia, armaram uma emboscada e capturaram o irmão mais novo. Para tentar atrair o outro irmão, foi marcado um enforcamento público.
— No dia marcado, escolheram uma das poucas árvores que havia por aqui e penduraram uma corda. Foi se formando um grupo para assistir. Até alguns índios apareceram. Aliás, é praticamente o primeiro contato não belicoso entre comerciantes e índios na região de que se tem notícia.
— Claro! Nada melhor do que um enforcamento para aproximar as pessoas. – deixa escapar Augustus.
O prefeito ignora e prossegue: — Aguardaram para ver se o irmão mais velho aparecia, mas o tempo foi passando e o sujeito não deu as caras.
— Resolveram, então, dar fim ao prisioneiro. Colocaram o pobre diabo sobre um caixote, puseram seu pescoço no laço, perguntaram se ele gostaria de dizer umas últimas palavras...
— E ele disse? - interrompe novamente Augustus.
McQueen respira fundo e prossegue: — Não que se saiba ou fizesse diferença. Algumas pessoas sabem quando ficar em silêncio.
— Posso continuar?