Cap. 223
— Ouviram um trovão vindo das terras Windigo. — relata Urso Negro a seu pai.
— Seu filho? – pergunta ao chefe o xamã Sapo Gordo.
— Pelo que ouvi, parece mais ser coisa daquele amigo dele. — responde um apático Cedro Vermelho.
Urso Negro: — Devemos ir até lá para ver o que aconteceu?
Cedro Vermelho: — Não. Se seu irmão tiver morrido, vocês serão apenas mais comida para Windigo.
Urso Negro: — E se Cobra ainda estiver vivo?
Cedro Vermelho: — Nesse caso, o problema é dos Windigo. Quem sabe ele não dá um fim naqueles amaldiçoados?
O chefe tenta esconder sua preocupação com um sorriso de canto de boca, o qual desaparece quando Noite da Raposa se junta à pequena reunião:
— Não coloque nos ombros de seu filho uma responsabilidade que é de toda uma tribo. Deter os Windigo é a nossa missão.
A senhora deixa o ar severo e se aproxima do filho de forma serena e gentil: — Por que será que nossos filhos nos dão tantas preocupações, não é?
Cedro Vermelho: — A senhora parece tranquila demais. Viu alguma coisa? Ou tomou um daqueles chás...
A anciã interrompe o filho com um olhar severo: — Proteger nossos filhos não é o mesmo que afastá-los de seus destinos. Alguns caminhos envolvem dor e sacrifícios.
Cedro: — Ele irá morrer?
Noite da Raposa: — Eu disse isso?
Cedro Vermelho: — Então ele não irá morrer?
Noite da Raposa: — Eu disse isso?
Cedro Vermelho, irritado: — A senhora nunca diz nada diretamente. Fica por aí se fazendo de conhecedora de tudo, mas nunca compartilha nada. Para que, afinal, serve a senhora?
Noite da Raposa: — Para meu filho poder desabafar e extravasar a frustração e medo que sente e não quer demonstrar. Para entender sua preocupação com meu neto e te dar apoio.
Cedro Vermelho fecha os olhos e abaixa a cabeça. Sua mãe passa a mão por seu rosto e o consola:
— Tenha calma e esperança, meu filho. Tudo tem seu tempo e seu momento. Ninguém parte antes da hora certa.
Cedro Vermelho, esperançoso: — Isso quer dizer que Cobra Traiçoeira voltará vivo?
Noite da Raposa: — Foi isso o que eu disse?