Cap. 269
Augustus e Sarah começam a empurrar o que restou do bote. A adrenalina em seus corpos ainda encobre as dores pelos esfolados, distensões e batidas que sofreram durante seu passeio pela montanha.
Cada passo faz doer até os olhos e ter de mover o barco com Cobra Traiçoeira dentro não torna a tarefa mais fácil.
Em busca de inspiração, Sarah se volta para olhar a montanha de onde vieram. Perceber o quanto já superaram deve trazer algum alento e motivação.
No entanto, ao invés do estímulo que procurava, os olhos agora arregalados da moça nem conseguiram visualizar a montanha, pois foram atraídos por pontos mais próximos da paisagem que ela descreve para Augustus com um longo, agudo e estridente grito de pavor.
O delegado se vota e identifica o motivo de ter quase ficado surdo: um Windigo saindo do meio da neve e vindo em sua direção.
— Esses malditos não morrem? – protesta a jovem Sarah, já em um volume e entonação menos agressivos aos tímpanos.
— Devem estar pensando a mesma coisa sobre nós, minha cara. — responde Augustus enquanto procura algo para poder atacar o indígena.
— Mantenha a calma. – pede ele à jovem, seja por ter um plano ou por temer que ela desencadeie outra avalanche.
— Ele é um só, estamos em maior número.
A jovem percebe que o delegado tem razão. A situação mudou, eles são maioria e podem dar um fim naquela aberração mesmo que seja por meio de mordidas e dentadas.
No entanto, sua confiança diminui conforme novos pares de olhos avermelhados vão brotando em meio à neve.
Morder parece não ser mais o suficiente. Ela e o delegado não são mais a maioria ali. Precisariam de mais bocas.
Augustus se arrepende por ter acalmado a moça. Uma nova avalanche seria providencial naquele momento e, provavelmente, sua única chance de sobrevivência.
Sarah olha para o delegado em busca de alguma instrução. Atingido pelo olhar da moça, ele vira o rosto para o outro lado e tudo o que consegue sugerir é:
— A senhorita saberia fazer algum som bem alto, como uma explosão ou disparo de uma arma?
Ele ouve um tiro e, ainda sem olhar para ela, parabeniza: — Muito bem! Consegue fazer mais alto?
— Não fui eu. - responde a senhorita.